O Cristão e as Redes Sociais
- Anderson Cavalcanti
- 29 de dez. de 2016
- 10 min de leitura

StartFragment“Prólogo”
Antes de qualquer coisa, escrever esse texto me fez refletir e repensar inúmeras atitudes minhas, como cristão, diante das redes sociais. Agradeço imensamente, primeiramente a Deus, e também ao Pr. Gerson Cardoso, pelo despertar desse tema que, além de atual, é de extrema relevância para nossos dias.
Apesar de não muito recomendado, aplicarei em muitos trechos desse texto a 1a pessoa, pois não quero de forma alguma cunhá-lo de extrema formalidade. Pretendo abordar o assunto da maneira mais informal possível. Começo explicando o que são redes sociais, seu histórico, qual os objetivos para quem as usa e quais os objetivos para quem as “vende”. Falarei um pouco das consequências espirituais para o mal uso da ferramenta e pequenas recomendações que julgo, à luz da palavra de Deus, importantes para quem usa. Desejo a todos uma boa leitura.
1. Introdução Uma rede social consiste em uma estrutura que permite conectar pessoas e/ou organizações no intuito de estabelecer relações sociais e compartilhar conteúdos de interesse comum. Com o advento das comunicações digitais e a internet, foi possível estabelecer esse tipo de conexão de forma virtual. Com sua evolução ao longo dos anos, o mercado da tecnologia da informação começou a enxergar, além dos interesses sociais, interesses comerciais, impulsionando mais ainda seu desenvolvimento. Essas plataformas tecnológicas, atualmente, são cunhadas, de uma forma geral, como “redes sociais”. Dentro desse contexto apresentado, e diante de observações sobre forma como as pessoas as usam ao longo dos anos, nos vem à reflexão: como o cristão deve se posicionar diante desse “mundo virtual”? Essa é a grande questão que tentaremos abordar no decorrer desse texto. Certamente nossa intenção não é esgotar o assunto, mas sim tentar traçar algumas linhas de raciocínio, à luz das Sagradas Escrituras,sobre qual o papel e a postura do cristão nesse contexto.
2. O que são redes sociais?
2.1. Uma breve História
A socialização é uma necessidade natural do ser humano. Com o advento da era digital, foi possível a exploração da socialização através de formas não presenciais. Apesar de ter surgido na década de 60, no auge da guerra fria, a internet teve seu uso doméstico e comercial iniciado a partir de 1992 com o conceito de WorldWide Web (WWW) dado por Tim Berners-Lee (cientista do CERN na Suíça). O conceito previa a concepção de um sistema de documentos em hipermídia que são ligados e executados na internet. Os documentos podem estar na forma de vídeos, sons, hipertextos e figuras. Nesse ambiente, um documento pode fazer referência e dar acesso direto (apenas com um clique do mouse) a outro documento e assim por diante. Com a chegada da Internet nas residências, inicialmente através de linhas telefônicas e MODEMs, surgem os primórdios do que chamamos atualmente de redes sociais. Os principais meios de socialização virtual em meados dos anos 90 são os programas de bate-papo. O IRC (Internet Relay Chat) popularizou-se nessa época como uma forma de os usuários trocarem mensagens (apenas de texto) entre si em salas virtuais. Muitos grupos se reuniam em horários determinados para conversarem de forma coletiva ou privada através dessas ferramentas. Nesses canais, existiam usuários operadores (OPs) que moderavam os outros usuários garantindo o bom uso da ferramenta. Os OPs possuíam o “poder” de expulsar um determinado usuário de um canal ou até mesmo de bani-lo. Por volta do ano de 2003, ferramentas de mensagens instantâneas como o ICQ e o MSN Messenger trouxeram recursos que não eram possíveis nos programas de IRC. Recursos como lista de amigos, emoticons animados, bate-papo por vídeo e por voz entre outros foram disponibilizados nessas plataformas. Essas ferramentas permitiam uma maior privacidade para os usuários e se tornaram muito populares na época. No ano de 2004, a plataforma Orkut da Google foi lançada. A plataforma tinha como base a Web (usada dentro do próprio navegador) e não necessitava de nenhum download de programa para ser usada. A plataforma permitia que o usuário adicionasse seus amigos e criasse sua própria rede. Uma característica interessante é que a ferramenta sugeria pessoas para você adicionar baseado principalmente em sua lista de amigos. Dessa forma foi possível aos usuários reencontrar amigos de infância,amigos cujo contato havia sido perdido entre outros. A ferramenta ainda permitia a postagem de fotos, troca de mensagens, bate-papo entre outros. Essa rede social se popularizou mais em países como o Brasil e a Índia. Ainda em 2004, o estudante da Universidade de Harvard, Mark Zuckerberg, iniciou o desenvolvimento do Facebook. Apoiado financeiramente pelo brasileiro, e também estudante de Harvard, Eduardo Saverin, Zuckerberg desenvolveu uma plataforma inicialmente restrita à Universidade de Harvard e que posteriormente se expandiu para Yale, Columbia e Stanford. A medida que o projeto foi crescendo, alguns investidores se interessaram pela ferramenta e pelo potencial que a mesma apresentava. A ferramenta, que a cada dia vem se inovando, permite uma interação muito mais forte entre seus usuários, o que alavancou sua popularidade. Atualmente, o Facebook é a maior rede social do mundo, estando presente tanto em sua versão Web como também em aplicativos para celular. A plataforma possui hoje cerca de 1,32 bilhão de membros, sendo 89 milhões apenas no Brasil. Além do Facebook, outras redes sociais como Instagram (do próprio Facebook), Twitter, Flickr, Whatsapp (também do Facebook) vem se destacando e ganhando usuários no mundo inteiro. O Whatsapp, por exemplo, vem trazer um novo conceito no mundo das redes sociais: o da mensagem rápida. O Whatsapp praticamente só precisa ser instalado em um dispositivo móvel. Não necessita de muitos dados para cadastro e não necessita adicionar usuários em sua rede. Ao instalar você já sabe, pela sua agenda telefônica, quem é usuário e quem não é. De uma forma bem ampla, as redes sociais fazem parte da vida da maioria das pessoas e é preciso ter consciência do que elas representam e qual a melhor forma de usá-las. O encurtamento das distâncias geográficas e a dificuldade de se estabelecer relações pessoais fazem das redes sociais algo altamente atrativo ao ser humano. Isso faz com que ele permaneça em sua zona de conforto e, ainda assim, consiga se relacionar com as pessoas.
2.2. Como as redes sociais afetam nossas vidas?
As redes sociais, indiscutivelmente, afetam as vidas das pessoas. Isso pode ser comprovado, por exemplo, pela primavera Árabe em 2011 em que uma onda de manifestações ocorreu tanto no oriente médio quanto no norte da África. Essas manifestações foram convocadas e disseminadas pelas redes sociais e causaram a queda de diversos ditadores desses países como a deposição e morte de Muammar Gaddafi na Líbia. No Brasil, em 2013, também vivenciamos uma onda de protestos motivada pelo aumento das passagens de ônibus. A maioria dessas manifestações populares se iniciou e disseminou através das redes sociais. É importante frisar que diversos temas importantes e muitos deles polêmicos da nossa sociedade passam por essas redes. Temas como racismo, pedofilia, sexo, terrorismo, política, religião etc são frequentes nessas redes.
2.3. Como as redes sociais sobrevivem?
Outro ponto importante para entender melhor o assunto é a forma como essas redes se mantêm financeiramente. Elas precisam dos seus usuários para se sustentar. Todas as redes sociais, sem exceção, mapeiam o perfil do seus usuários. Quem nunca percebeu um anúncio de algum produto em seu computador de algo que você estava exatamente procurando? Quando você faz alguma busca no Google, por exemplo, aquele seu interesse é armazenado e processado pela empresa. Esse processamento determina que tipos de anúncio são interessantes para você. Isso expõe o usuário a uma rede gigantesca de consumo interessada em seu perfil.
3. O cristão e as redes sociais
3.1. Como as pessoas usam as redes sociais?
Não é possível, em um simples texto, mapear todos os perfis de usuários existentes nas redes. No entanto, pela nossa vivência de usuário, percebemos que, de uma maneira geral, as pessoas não conseguem estabelecer uma linha clara sobre o que deve ser público e o que deve ser privado. Muitas pessoas usam as redes para mostrar à sociedade uma imagem que muitas vezes não corresponde à realidade da sua vida ou então para dar opiniões muitas vezes precárias de uma reflexão maior sobre certos temas. Outros usam para dar detalhes da sua vida que não interessam aos outros. A exposição é tanta que é possível, usando dispositivos móveis, precisar até sua localização (através de geolocalização). Muitos usuários também usam a rede exclusivamente para divulgar conteúdo sexual, ilícito, político entre outros. Diante dessa enxurrada de conteúdo, vem a grande questão: como o cristão deve se portar diante de tudo isso?
3.2. A exposição à conteúdos indesejados
Quando aceitamos a Jesus como Senhor e Salvador, o Espírito Santo passa a habitar em nós. Uma das ações do Espírito Santo é no sentido de nos alertar sobre situações que podem nos conduzir ao pecado. Quando estamos expostos a conteúdos que podem despertar em nós o desejo pelo pecado, mesmo com a ação do Espírito, a decisão de pecar está em nós. Então, por que se expor a determinados conteúdos ou assuntos? Vejamos o que diz a bíblia em Mateus 6:22-23:
“Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!”
A primeira coisa, como cristão, que devemos ter em mente é que correremos o risco de ser expostos à conteúdos que muitas vezes não desejamos ver. Consequentemente, tal conteúdo pode nos conduzir a uma situação de pecado e uma subsequente quebra de comunhão com Deus. Portanto, devemos ser bem criteriosos em quem devemos ou não adicionar em nossas redes. Há relatos de casos de relacionamentos extraconjugais iniciados em redes sociais, casos de alcoólatras em recuperação que recaem no vício por verem amigos consumindo bebidas alcoólicas entre outros casos. É importante lembrar da recomendação apostólica de Paulo em 1 Tessalonicenses 5:21-23:
“Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”
Não devemos nos abster apenas do que é mal, mas também de tudo o que parece ser mal. É preciso estar consciente que uma simples publicação indevida, quando vista, poderá gerar uma quebra de comunhão com Deus como bem explica o Apóstolo Tiago em Tiago 1:14-15:
“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.”
Do ponto de vista social, algumas tensões podem ser geradas quando negamos o “pedido de amizade” em uma rede para uma determinada pessoa. Para minimizar as tensões sobre quem adicionar ou não, o Facebook, por exemplo, nos oferece a opção de adicionar uma pessoa porém não segui-la. Dessa forma, quando o conteúdo postado por alguém não é interessante, podemos deixar de segui-la e, assim, não visualizar o que ela posta.
3.3. A exposição à contendas
Não é raro ver em redes sociais contendas geradas pelos mais diversos tipos de postagens. O exemplo mais claro aconteceu nas eleições presidenciais de 2014 no Brasil. A disputa aquecida tomou conta das redes sociais gerando intrigas entre pessoas conhecidas, amigos e familiares. Xingamentos mútuos, relações quebradas e discussões infindáveis por um motivo totalmente absurdo. Eu não me excluo disso. Hoje, passado o pleito, me pergunto qual a razão daquilo tudo? Será que aquelas discussões tiveram o poder de interferir no pleito de forma positiva? Mesmo que tivesse, será que a forma como as discussões aconteceram foi correta? Deus foi glorificado através dos meus comentários? Acredito que não. As eleições foram apenas um exemplo das inúmeras contendas existentes entre amigos.
Através das redes sociais é possível semear contendas e ódio simplesmente pela exposição de um pensamento. É muito importante o cristão refletir muito antes de postar ou compartilhar um determinado conteúdo. É preciso observar se o conteúdo é preconceituoso, se fere a imagem de alguém ou se é por demais polêmico. Assim, evita-se o compartilhamento de contendas. A bíblia nos adverte em Provérbios 6:16-19.
“Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina: Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, O coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, A testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.”
O Senhor abomina qualquer tipo de ação que semeie contenda entre irmãos.
3.4. Exposições Desnecessárias
É difícil estabelecer uma linha entre o que é necessário e o que não é necessário ser compartilhado publicamente. O que deve ser público e o que deve ser privado? Não conseguir estabelecer os limites da nossa exposição nas redes sociais pode nos custar caro e colocar em risco a integridade da nossa imagem perante a sociedade. É importante lembrar que, ao cair na rede, o conteúdo divulgado pode se espalhar muitas vezes sem controle algum de quem o divulgou. Devemos sempre ter em mente que nossas postagens não podem, de forma alguma, levar alguém a questionar nosso testemunho cristão. Ser testemunha de Cristo é algo levado muito a sério na bíblia e envolve Santidade e exemplo de vida. Lembremos de Mateus 5:16:
"Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus."
A pergunta a ser feita é: o que eu exponho da minha vida reflete a luz de Cristo que existe (ou deveria existir) em mim? O Pai é glorificado nas coisas que exponho? Senão, é preciso repensar sobre se devo ou não compartilhar aquilo e, principalmente, repensar sobre aquele fato na minha vida.
Outro ponto importante a ser refletido consiste no que eu vejo da vida de alguém e compartilho. Há quem veja algo reprovável postado por um irmão e simplesmente reforce a publicação ou faça comentários reprovativos. Quando Noé trouxe escândalo para sua casa, seus filhos o tornaram ainda mais grave quando expuseram a nudez de seu pai e foram punidos por Deus. Certamente, Satanás se delicia com a queda de um filho de Deus, principalmente quando ela pode ser espalhada para milhares de pessoas em alguns minutos.
3.5. Usando a ferramenta para o serviço no Reino de Deus
Repensados todos os comportamentos descritos acima, o cristão precisa pensar, de forma estratégica, em como usar a ferramenta para o serviço do Reino de Deus. A quantidade de países que podem ser alcançado pelas redes sociais é enorme. Sabemos que muitas redes sociais são proibidas em determinados países (principalmente de origem Árabe), seja por questões políticas seja por questões religiosas. Na China, Síria, Paquistão, Bangladesh, Turquia, Vietnã entre outros, o Facebook, Youtube, Twitter e até mesmo o Blogger são bloqueados. Mesmo com as restrições impostas, muitas pessoas desses países conseguem acessar essas redes através de alguns artifícios tecnológicos. As igrejas podem, por exemplo, criar páginas estratégicas dentro dessas redes falando do Evangelho de Jesus Cristo nessas línguas. Tais páginas, apesar de não trafegarem livremente em alguns países, podem ser vistas por um subgrupo de pessoas que “furam” o bloqueio das redes sociais e podem ser replicadoras da mensagem. É uma estratégia de baixo custo e de baixo risco, visto que não implica no envio de missionários para esses campos. Outras estratégias locais como a criação de canais de comunicação de igrejas, divulgação de eventos, divulgação de pregações, louvores, transmissão de cultos etc também podem ser utilizadas. Se bem pensada, as estratégias de evangelismo podem tirar proveito do alcance das redes sociais e levar a Palavra de Salvação a muitos.
4. Conclusões
Diante do tudo o que foi exposto, certamente muitas outras reflexões podem surgir. Acredito, no entanto, que o cerne da questão reside em como melhor utilizar as ferramentas das redes sociais para a Glória de Deus, seja através do evangelismo,seja através do exemplo de vida. É importante lembrar que as redes sociais apenas refletem como está sua vida, portanto, a decisão em como usá-las é nossa. Um abraço e fiquem com a paz do Senhor Jesus
Anderson Cavalcanti
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